Para Cristas as touradas são uma espécie de bailado



Queria só deixar explícito que não apoio o bailado das touradas, nem garraiadas académicas, nem macacadas estudantis de qualquer género em nome da tradição, situações onde vulgarmente se abuse do mais fraco porque é um animal, em nome deste ou daquele argumento, a praxe secular, a tradição, a cultura, a inclusão estudantil, a camaradagem, o divertimento, a preparação para o futuro. Argumentos cada vez mais questionáveis que são já foco de debate em muitas Universidades onde começa a tornar-se relevante a necessidade de revisão e actualização das tradicionais praxes humilhatórias a caloiros, não inocentemente chamados de animais, práticas muitas vezes atentatórias até de direitos humanos, em nome da dignidade quer dos novos estudantes que chegam às academias, quer dos que os recebem. A entrada na Universidade, com a carga simbólica que também lhe está associada, de etapa maior na aquisição de um conhecimento específico, de crescimento intelectual, devia ser igualmente acompanhada pelo aprimoramento dos jovens em outros domínios menos cerebrais, para que a não terminem encanudados mas sem substância emocional, desprovidos de sensibilidade e pensamento crítico, adultos que dizem às TV's, a fazer boquinhas, que as touradas são um bailado, ou que se esforçarem muito, muito, muito se podem compadecer do sofrimento dos animais, isto é, pessoas imaturas, superficiais, centradas em si mesmas, embotadas para tudo o que extravaze do seu círculo egoístico de interesses mais imediatos, por exemplo, a perfeição e a beleza inexcedível dos seres que partilham o mundo natural connosco, sem perceber que também a estes cabe dignificar em nome não da tradição mas do que um futuro maior exige. E o escritor Hemingway que se chamou para justificar a arte dos toiros, todos sabemos, foi um aficcionado que gostava de touradas no tempo dele, não sabemos se hoje seria um aficcionado. Hemingway também opinava que a guerra era necessária e justificável, mas sempre um crime. E deixou escrito, mas, claro, é preciso que as pessoas ocupem o seu tempo a ler e não apenas a treinar sorrisinhos políticos ao espelho, para o saber, o seguinte “Acho que, de um ponto de vista moral moderno, ou seja, um ponto de vista cristão, toda a corrida de touros é indefensável; há certamente muita crueldade, há sempre perigo, seja procurado ou de modo inesperado, e sempre existe a morte, e não deveria tentar defendê-la agora, só para dizer honestamente as coisas verdadeiras que encontrei acerca dela"

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