Constança diz adeus ao MAI após fim de semana quente


A culpa dos incêndios é evidentemente do Governo, é dos partidos do Governo, é da oposição, é dos portugueses porque somos nós que elegemos Governos, é dos anteriores Governos e sobretudos dos desGOVERNOS, dos anteriores ministros e presidentes, é da cedência cega às politicas da UE que hipotecaram o futuro da floresta, da agricultura e atrofiaram o interior. A culpa dos incêndios é de não existir uma política da floresta e antes uma floresta de políticos onde predomina a monocultura do partido a que pertençam. A culpa é central e é local, a culpa não tem cúpula. A culpa é dos graus de temperatura média anual a mais que somam e seguem, e somarão, dos fenómenos atmosféricos episódicos extremos, dos que incendeiam por loucura, oportunismo, negócios escuros, dos incautos das queimadas, dos desleixados que não limpam, do desGOVERNO total a que se tem votado a floresta ao longo de décadas. A floresta é um assunto sazonal, são dossiers que vão de férias em Outubro e que só regressam depois da mudança da hora. A floresta só é lembrada quando dá dinheiro e quando arde, e até para o cartaz turístico do país é remetida sempre para segundo plano. A floresta é um assunto tão pouco importante que qualquer Zé comenta na TV durante meia hora mas os especialistas, engenheiros florestais, biólogos e outros, ficam em casa a ver e a rir-se para não chorar. A culpa é das árvores, se fossem antes estas e não aquelas isto já não acontecia. A culpa, a culpa. A culpa é ramificada, são muitos ramos e raminhos, raízes fundas cujas extremidades a custo se alcançam. A culpa vai tão longe que já ninguém lhe consegue deitar a mão. Em suma, e para acabar, a culpa é do fogo porque o fogo queima. 

E então não vamos demitir nem permitir a demissão da ministra porque isso nada resolve: não expia a culpa dos incêndios porque a culpa é maior do que aquela por que ela alguma vez poderá responder e procedendo assim estamos a fazer de Constança mais uma vítima dos incêndios; demitir Constança não traz os mortos de volta, não devolve a seiva às árvores queimadas, não repovoa os terrenos em cinzas, não há nenhum efeito útil nisso. Todavia gostaríamos, se pudéssemos, de chamar todos os anteriores que falharam na resolução do problema floresta e de os fazer pagar por isso. Constança é que não: deixemo-la continuar a fazer o que de melhor sabe fazer mesmo quando a senhora implora para sair após Pedrogão. 

O problema dos incêndios não se resolve com a demissão da ministra mas Costa que diga e também aqueles que andam a afirmar isto, porque acham que se resolve com a sua manutenção no lugar: porque o mais fácil é sair? Mas que resposta é esta?!! Exempliquem-me o que ela fez desde Pedrogão, o que fez Constança e o MAI por que dá a face? E, já agora, o que se fez antes de Pedrogão? Ela chegou em 2015. Em 2016 ardeu no Porto, em Aveiro, em Viseu e na Madeira. O período crítico de incêndios foi até prorrogado pelo Governo devido às condições meteorológicas. Segundo li, a área ardida em 2016 mais do que duplicou em relação a 2015, tendo os incêndios florestais consumido, até 30 de setembro, 150.499 hectares, embora em contrapartida, o número de ocorrências de fogo tivesse descido quase 25 por cento face ao mesmo período de 2015. Isto é bom? Isto é excelente?  A Protecção Civil comunicou que 35 por cento dos grandes incêndios tiveram origem intencional, 26% tiveram causa negligente e 29% desconhecidas. Também se verificaram mortes. Lembram-se? Ou foram poucas para serem lembradas? 

Do que recordo Constança encomendou estudos sobre o SIRESP, a que continuamos presos e a ver falhar nos momentos de crise, falou-se em meter reclusos a catar mata. Digam-me que mais andou Constança a urdir, eu também não andava de olho na senhora, mas entretanto fiquei a saber que não gozou férias: tem de haver mais qualquer coisa. Algures durante o verão o ministro da Defesa, Costa e Constança concordaram que a Força Aérea devia voltar ao combate das chamas, em Agosto ela não possuía meios aéreos que permitissem a realização de missões de combate a incêndios, agora é Outubro e também não tem. Porquê? Porque tudo demora o seu tempo. Correcto, aceito. Mas eu pergunto se o processo já foi sequer iniciado. Foi?

Constança não é nenhuma idiota. É uma jurista capaz com fama de trabalhadora. Não é lá muito hábil nas declarações que presta, não duvido da sua dedicação ao posto, mas, sobretudo, onde está a mudança que se espera a cada novo verão? E se a estrutura de liderança da Autoridade Nacional da Protecção Civil (ANPC) foi alterada quase por completo desde que o Governo entrou em funções, com a substituição de sete dos oito membros, - porque os que lá estavam foram avaliados como incompetentes, foi isso? - se em cima da época de incêndios houve também muitas mudanças na estrutura de comando operacional,  - em nome da melhor obtenção de resultados? - e se depois de Pedrogão houve duas demissões pelo menos na Autoridade Nacional da Protecção Civil (ANPC) em virtude das falhas que terão sido cometidas durante o incêndio mais mortífero de sempre e ninguém se manifestou contra, agora Constança não pode ser demitida pois estamos a fazer dela um bode expiatório? E porque será substituída por um clone dela mesma... e nisto eu acredito.

Não entendo nem a obstinação de Costa em relação ao deferimento do seu pedido de demissão nem à remodelação do MAI, nem a de muitos que pelas redes fora se manifestaram como se ela fosse um elemento insubstituível. Onde estão os resultados impactantes da sua acção na criação de uma política de preservação e continuidade da floresta portuguesa? Some-se ao que disse as  resoluções do MAI para este fim-de-semana quente ou a sua ausência. Se esses muitos que defendem Constança fossem responsáveis por grandes empresas e nomeassem uma pessoa para um lugar de responsabilidade e confiança, e ela vos falhasse, continuariam a ser assim tão magnânimos? Dar-lhe-iam mais uma oportunidade? Devo ser muito insensível então. Por muito capacitada na área jurídica e trabalhadora, pura e simplesmente Constança e o seu MAI não estavam a dar a resposta que é esperada e ter mantido Constança obstinadamente desde Pedrogão  foi apenas alinhar com o rol de subjectividades que todos desejamos combatidas. 

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