Dia Internacional da Mulher: o mito das mulheres mártires no dia 8 de Março

Hoje é dia 8 de Março. Toda a semana por aí vi publicidades de jantares para celebrar a mulher e sei que logo mais muito mulherio se juntará para comer e beber em conjunto, em jantares "só para elas". Não é que esteja a condenar quem aproveita qualquer pretexto do calendário para se divertir. A vida é curta e o convívio faz parte. Mas gostava que todas essas mulheres que se vestem e afinam para ir comer e beber a um restaurante - onde as aguarda um menu especialmente concebido pelo comércio para fazer uns trocos extra à sua custa, que os tempos estão difíceis - não esquecessem que ele simboliza um longo percurso de lutas por melhores condições de vida e direitos por mulheres do mundo inteiro. Até aposto que estas mulheres que hoje vão comer e beber à sua saúde se esquecem sempre de erguer um copo a estas outras e seria bonito.

Parece, todavia, ser um mito que num qualquer dia 8 de Outubro tenham morrido operárias num fogo, uma história muito, muito difundida. Ocorreram greves e um grande incêndio, mas nenhum desses acontecimentos foi na data de 8 de março de qualquer dos anos. E mais: ocorreram depois de Clara Zetkin ter sugerido a criação do Dia Internacional da Mulher. O dia 8 de março como Dia Internacional da Mulher foi estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975. 

Nesta década de 70 começaram a surgir muitas discussões em torno do género feminino. Muitas razões podem ter justificado a eleição deste dia pela ONU. A luta das mulheres pelos seus direitos já vinha de longe. O dia terá sido uma forma de criar uma simbologia em torno dessas reivindicações e lutas. Em vários pontos do mundo as mulheres insurgiram-se contra as condições em que trabalhavam. Isso aconteceu nos Estados Unidos, no final do séc. XIX e início do séc. XX, mas também na Rússia, por exemplo, ligando-se à Revolução de Outubro. Abundam relatos de incidentes nos EUA relacionados com o direito ao sufrágio ou a melhores condições de trabalho. Da wikipedia: Em 1910, ocorreu a primeira conferência internacional de mulheres, em Copenhagen, Dinamarca, dirigida pela Internacional Socialista, quando foi aprovada a proposta, apresentada pela socialista alemã Clara Zetkin, de instituição de um Dia Internacional da Mulher, embora nenhuma data tivesse sido especificada. No ano seguinte, uma comemoração do Dia Internacional da Mulher foi observada no dia 19 de março na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça, onde mais de um milhão de homens e mulheres participaram de manifestações que exigiam os direitos de votar e ser votada, de trabalhar, de receber educação vocacional e, também, o fim da discriminação no trabalho.

Observo no extremo oposto um grupo de mulheres que se insurge contra a celebração do Dia Internacional da Mulher, dizendo que é uma efeméride discriminatória em si mesma. Na realidade, pelo mundo inteiro, as mulheres continuam a ser um grupo desfavorecido em muitas circunstâncias, mantendo-se com actualidade quer a reivindicação de melhores condições de trabalho, de salário igual para trabalho igual, de um bom ambiente de trabalho, quer muitos outros direitos. Entendam-no como quiserem, a verdade é que, ontem como hoje, as mulheres continuam a ser vítimas de graves injustiças. Em Portugal e no Mundo.

Um pouco de história, aqui.

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