Relembrando o concerto dos Muse no Estádio do Dragão



E aonde é que estavas tu a festejar o 10 de Junho há um ano atrás? Eu estava no Porto e com bilhete no bolso para ir ao Estádio do Dragão ver o concerto dos Muse inserido na The 2nd Law Tour. Foi um fim de semana frio e sem sol, precisemos, chegou a chover. Ao final da tarde fui para o estádio agasalhada mas não o bastante, não imaginando o frio do c..., -assim se fala no Porto, - que iria ter de aguentar. Havia gente de gorro na cabeça e cachecol. Isto resume a coisa. Por isso quando começamos a fazer a onda nunca mais parámos. Enquanto a música não chegava tínhamos encontrado uma outra forma de manter os músculos em movimento, aquecidos!

O estádio tem cerca de 50.000 lugares, que não estavam completamente preenchidos, julgo que estiveram lá 45.000 pessoas. Havia gente em lágrimas por não poder ir ao concerto dos Muse, um espectáculo que prometia incendiar o Estádio do Dragão. Eu não sou fã dos Muse, eu não sou fã de grupo algum embora tenha os meus preferidos. Acho que o único grupo de que eu alguma vez fui fã foram os Duran Duran. E mesmo assim fui apenas uma pequena fã, não fui além de meter uma madeixa loura na minha franja. Nunca os vi ao vivo, não tenho sequer um LP deles, ouvia o Rio em cassetes que as amigas me gravavam. Guardava algumas Bravo com posters dos rapazes e, claro, desenhava o baixista que considerava to die for, o John Taylor, nos meus cadernos da escola. Ah, e tentava desesperadamente ver os videoclipes que passavam na TV em programas de música que aconteciam uma vez por semana! E, oh tristeza, nem sequer podia gravar para ver de novo. Eram tempos difíceis para uma fã, mesmo uma fã mindinha como eu, se comparados com os actuais onde tudo cabe dentro de um cartão de memória de um telemóvel. Mas nem ontem nem hoje, eu não tenho espírito de fã. Compare-se o caso desta particular fã que decidiu dar os parabéns ao Matt Bellamy mobilizando a multidão presente no estádio. Happy B-Day Matt, foi uma flash mob criada por uma miúda que deve ser fã do fundo das tripas e que implicou colocar 5000 folhas brancas de papel A3 nas cadeiras para as pessoas erguerem no ar, em sincronia, num dado momento desenhando assim aquela frase. Estão a ver a trabalheira?! E eu? Eu fiz uma mecha loira na minha franja. A minha cadeira não tinha folha. Adiante.

Então o que faz uma gaja que nem sequer é fã dos Muse num concerto dos Muse? Ainda por cima é um concerto caro pra c...(sim, sim, leia-se isso mesmo e não caraças.) E mais: uma gaja que acha que tudo quanto excede a lotação de um coliseu (Porto ou Lisboa) já não é concerto, é desconcerto. Eu não quero ir a um concerto para ver músicos de 3cm. Qual é a graça de olhar para ecrãs -um pouco maiores do que os que tenho em casa, é certo - para ter a certeza que estamos no concerto certo?!! Qual o sentido disto?!!! Uma multidão aos saltos pode ser tudo o que vocês queiram mas os bilhetes para ver multidões amestradas não os acham um pouco caros pra c...?!!

No fundo, e embora eu até curta bastante o som dos Muse, fui ver o concerto atraída pelas críticas de estalo que se acumulavam desde o início da tour. A começar no desenho do palco, passando pelas boas prestações de toda a banda, pela utilização magistral do vídeo, a excelência dos efeitos visuais, do desenho de luz, pela apurada noção de espectáculo, que até actores e actrizes incluía, etc, etc, parecia ser o concerto do ano. Quando cheguei ao estádio e vi o palco enorme inspirado na famosa central termoeléctrica londrina dos anos 30, a Battersea Power Station , não fiquei imediatamente convencida. (A propósito, esta central parece exercer um certo fascínio nos grupos musicais pois além dos Muse também os Beatles, os The Animals e os Pink Floyd se apropriaram da sua imagem em diversos suportes.) Foi preciso aguardar que escurecesse e que tudo aquilo ganhasse luz, calor, vida. Quando o concerto arrancou surpreendeu-me de tal maneira que até me esqueci de tirar fotografias! Em rápidos minutos o palco transformou-se num arrebatador cenário de ficção científica, a máquina estava em movimento sem margem para improvisação. O que melhor recordo é a luz das labaredas que se soltaram das chaminés a iluminar tudo, o calor resultante das explosões a chegar até ao meu rosto e corpo, o desenho magnético que lentamente se formou ao centro, uma espécie de turbina, as cores vermelha e azul. A conjugação perfeita da música com tudo. Foi sensacional.

Os Muse em palco são uma máquina e Bellamy é um homem com uma energia inesgotável. Ao longo dos 90 minutos fez de tudo para manter a comunicação e o contacto com o público, o que era facilitado por um sub-palco distanciado longos metros do principal. Ora tirando riffs vibrantes da guitarra, ora sentando-se calmamente ao piano, manteve sempre uma vocalização irrepreensível. Neste concerto houve tempo para tudo, para as canções recentes, para os hits, até para a flash mob. Mas é um concerto ganhador porque, pese embora o gigantismo visual e a espectacularidade da produção, em nenhum momento esquece a celebração da música, a razão de ser de estarmos ali, 45.000 pessoas de todas as idades, e é ela que, em última análise, incendeia a multidão e a faz render-se e transformar num só corpo, em puro júbilo e alegria.

Em conclusão. Este grupo já existe há vinte anos e é indiscutível que são extremamente profissionais, goste-se muito, assim-assim, pouco ou nada. Eu não conheço os Muse do início de carreira mas do que conheço gosto. Penso que os Muse têm um produto popular de bom gosto, um produto onde por vezes caiu a nódoa, como acontece com qualquer bom pano. Mas isso são minudências para os puristas e fãs do fundo das tripas, que não eu. Foi a primeira vez que vi um concerto em estádio e não conto repetir. Mas que valeu a pena, valeu. Por isso hoje, um ano decorrido sobre o concerto, relembrei a noitada com os Muse, no estádio do Dragão. Foi mesmo um concerto do c...


Ainda era de dia
Do meu lugar na bancada
O Bellamy no ecrã e no palco, a tal coisa...
As chaminés em chamas
O princípio
Quase no fim...

A função do sub-palco, os riffs, os vocais

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