Exposição Colectiva de Fotografia Figueira da Foz, Aqui sou feliz encerra hoje!




20 autores, 20 olhares, 20 fotografias. Encerrou hoje a exposição colectiva de fotografia Figueira da Foz, Aqui sou feliz que esteve aberta à visita do público no 1º piso do Mercado Municipal desde o dia 20 de Setembro. A iniciativa de organizar esta exposição partiu de uma página do Facebook dedicada à cidade da Figueira da Foz, administrada por Mauro Correia, – www.facebook.com/figueiradafoz - e contou com o apoio da Divisão de Cultura da Câmara Municipal, tendo sido integrada nas comemorações do 131º Aniversário da elevação da Figueira da Foz a cidade.

Não sei se a exposição teve muita adesão, mas havia boas razões para ir ao Mercado Municipal. Em primeiro lugar, as fotografias. Eram fotografias da região. Acreditem que mesmo residindo na Figueira da Foz poderiam ser surpreendidos. Mesmo que caminhem pelas suas ruas diariamente. Ou façam muitas voltinhas ao fim-de-semana. Um bom fotógrafo vai conseguir mostrar-nos coisas que nunca vimos ou de uma forma que não conseguimos ver. Acabamos por ampliar o nosso conhecimento através dos olhares dos outros. Experimentamos surpresa, beleza, dúvida. É um bom exercício. Em segundo lugar, os fotógrafos. Não conheço nenhum deles pessoalmente, não sei quem é profissional, quem é amador, se são todos amigos ou não. Mas uniram-se e fizeram acontecer a exposição. No mínimo deram-nos mais um bom pretexto para sair de casa e esticar as pernas. Merecem o nosso apoio. Em terceiro lugar era grátis. Actualmente quase tudo é pago e uma das razões que muita gente aponta para não participar em eventos culturais é o preço. Ir ver a exposição era de borla e, sim, fotografia é cultura. Em quarto lugar, era inovador. Era sim senhora. A exposição foi feita num espaço tradicionalmente apartado dos eventos culturais, o mercado municipal. Espero que o exemplo continue e que o espaço venha a ser explorado para esse fim mais vezes. E já agora outros espaços. Além destas, outras mais, por exemplo, esteve aberta durante um período de tempo razoável e num bom horário. Se não foram ver a exposição, paciência. Terá de ficar para a próxima. Eu não fotografei as fotografias pois os vidros tinham muitos reflexos, estaria a prestar um mau serviço aos fotógrafos se o tivesse feito. No entanto fotografei o 1º piso do mercado para vocês verem como está este espaço depois da obra de requalificação. (Abaixo.)

Estes jovens têm páginas no Facebook e eu sigo algumas. Aconselho a que procurem pois eles são uns autênticos caçadores de imagens, eu tenho visto recantos da Figueira da Foz e arredores que nem sabia que existiam! Vamos ver se aquando da próxima exposição nos encontramos todos lá! Aqui deixo as minhas impressões pessoais das fotos, " a la minute", para não aborrecer muito!

Bianca Nerlich, apresentou uma bela fotografia, uma autêntica cápsula do tempo, onde o nosso olhar hesita entre a beleza de um céu carregado de estrelas e a aparente fragilidade de um moinho de madeira. Debaixo daquele céu majestoso parece um estóico soldado, um resistente de um tempo perdido!

Celso Silva, mostra na sua fotografia como a Natureza não precisa de mais que uns tons de laranja para pintar uma obra prima. Nem tudo o que reluz é oiro, mas nesta fotografia os raios de sol transformaram a água do rio Mondego em ouro líquido, inundando a foz de esperança por entre as nuvens negras.

Cíntia Sofia, trouxe o humor a esta exposição através da cor, das formas redondas dos Wolkswagen! Ela encontrou dois "carochas", um mais entradote e outro jovem, a viverem um romance, junto da Torre do Relógio, sob a égide dos gelados da Olá! Esta foto divertida, que captura a luz e as cores do verão, acaba por ser uma metáfora. Um instante que valeu a pena guardar!

Filipe Brás, fez talvez a minha foto predilecta. Porquê? A realidade desoladora de um dia agreste. O molhe norte está deserto e as ondas que o varrem são de areia. Tive de olhar duas vezes e aproximar-me para ver melhor. Ondas de areia. Ele viu poesia. Isto vale a pena.

Jaime Albarino, mostrou-nos um porto de abrigo em tons de cinza azulado e laranja, a marina, uma das zonas mais bonitas da Figueira da Foz. Vejam se os barcos não parecem casas, se o chão de água não podia ser terra. Que tranquilidade embalada pelo luar.

João Silva, trouxe para a exposição uma fotografia de rosas e azuis irreais, esfumados, abruptamente manchados de escuro por um rochedo, um intruso, a lembrar-me alguns barcos que encalharam na nossa costa!

Jorge Ribeiro, fotografou autênticas asas de liberdade que se lançam do topo da Serra da Boa Viagem, sem medo. Uma fotografia a preto e branco onde quase adivinhamos os vultos a sumirem-se na névoa do horizonte, deixando as amarras para sempre.

José Alberto Ferreira, mostra-nos numa das fotografias mais complexas em sentidos e jogos de linhas, a engenharia da modernidade da ponte da Figueira e a técnica antiga da construção de salinas. Friamente, leva-nos a interrogar sobre esta convivência. Será o reflexo da ponte nas águas das salinas um sinal de ameaça, ainda que velado?

Luís Cavaleiro, apresenta-nos uma fotografia que captura aquele momento mágico em que dia e noite convivem. Ainda não é noite mas já não é dia. Um rasto de luz laranja faz vibrar a quietude desta paisagem. É uma fotografia plena de mistério e qualidade estética.

Luís Pessoa, mostra-nos a graça de ver a rua ocupada pelas pessoas e transformada numa celebração de passos e poses, sem preconceitos ou vergonha dos olhares alheios. Mais uma fotografia que nos faz esboçar um sorriso.

Nestor Santos, oferece-nos uma fotografia de cores saturadas e boa perspectiva, um postal do trabalho nas salinas.

Miguel Madureira, na fotografia apresentada, mais do que um relógio, eu vi duas pessoas sem futuro. As linhas da torre e da varanda parecem barrar os movimentos a este dois, sentados num banco, apartados, sem diálogo. O tempo parou, eles pararam o tempo. E, no entanto, não poderão eles ser apenas dois estranhos que escolheram o mesmo banco por acaso?

Paulo Barbosa de Madureira, branco e negro, as cores académicas, tinha de ser uma fotografia a preto e branco. O sorriso deste rapaz ao centro da fotografia ilumina todo o recinto. É através dele que vivemos a festa no Coliseu e a desconcertante celebração estudantil da garraiada. É também através da sua alegria que festejamos este abraço anual entre a Figueira da Foz e Coimbra! Uma excelente participação!

Pedro Cruz, apresenta-nos uma fotografia que é movimento, é força, é ousadia, é espanto. Impossível não perguntar que louco é aquele que se agarra à sua prancha como um animal marinho à sua carapaça para conseguir sobreviver, acrobaticamente, à fúria da onda! Como te atreves? - parece questionar a onda,- Vai-te se não queres ser engolido! - parece ela rugir ao enrolar-se. Uma homenagem ao Cabedelo e aos surfistas loucos que nos encantam com as suas proezas.

Pedro Martins, traz-nos uma fotografia do molhe norte, o paredão que entra pelo mar e descreve aquela curva suave para a esquerda. Nesta foto tudo parece líquido, o ar, o caminho, o horizonte. É o caminho do mar, é o destino, ou foi, de muita gente da Figueira. Ao vê-la a nossa respiração suspende-se como se estivéssemos debaixo de água. Adorei.

Rui Paulo Gonçalves, a fotografia que nos trouxe até podia ser uma tela, um empastelado de cores escolhidas a preceito. Ali perdemos o pé, não sabemos mais onde fica o chão e onde o céu, se voamos pelo chão ou se caminhamos pelas nuvens. O encontro das pontes é uma ilusão mas na realidade prova, através do olhar do fotógrafo, que o passado e o futuro estão intimamente ligados.

Rui Santos, mostra-nos uma fotografia que se vê e que se ouve. Escutem o vento enquanto ele acaricia as ervas ondulantes em primeiro plano para depois as abandonar. Sigam o seu rasto pelos terrenos e descansem os olhos no horizonte orlado pela Serra da Boa Viagem.

Sérgio Vieira, desvenda-nos o amor da terra pelo mar nesta fotografia. Quando a noite chega a terra incendeia as águas do mar com tochas de luz. Amor é fogo que arde sem se ver, a não ser que haja um fotógrafo por perto. Um bom click.

Susana Cardoso, captou uma modesta vendedora de castanhas assadas junto do gigante Casino da Figueira e deu o nome de Perfume de Outono à sua fotografia. É um retrato social onde a fina ironia dava para escrever um livro!

Susana Monteiro, mostrou-nos um céu azul eléctrico sobre o vasto areal da Figueira da Foz. Ao longe o horizonte iluminado por um raio, sinal de tempestade no mar. Em frente a nós a passadeira. Ver melhor, ver mais de perto...ir até ao mar...O clarão despertou-me para a vida dos pescadores e dos perigos por que passam no alto-mar. Vida dura. Quantos de nós teriam a coragem de fazer esse caminho?

A Figueira da Foz precisa de mais iniciativas como esta, dos seus cidadãos para os outros cidadãos, despretensiosas, feitas com o coração. Simples exposições como esta animam os espaços urbanos não apenas pela mostra em si mas também pela discussão que podem fomentar. Não raro geram entusiasmo e mobilizações para projectos futuros. Potencialmente podem até despertar o visitante para a fotografia amadora, ou até como profissão, ao colocarem-no perante uma forma de apreciação da fotografia diferente daquela a que usualmente está habituado. Com a generalização do digital a banalização da fotografia tornou-se uma evidência. A captação fotográfica de imagens e a sua distribuição estão mais presentes no nosso quotidiano que nunca.Qualquer exposição de fotografia, obrigando a um formato adequado e impressão em papel, acaba por reconduzir o olhar do seu observador à sua original vocação e só por isso valerá a pena...







Comentários

muito boa a exposição, e principalmente o texto com os autores e as sua obras justificada, parabéns e sucesso
http://llherbalife.blogspot.com.br/