Cinema: Argo, de Ben Affleck


Ben Affleck. Não gosto dele. O que se há-de fazer? Existem actores com os quais eu implico desde o primeiro momento e Affleck, bah, é um deles. Prefiro quando ele fica atrás da câmera, sem dúvida. Quando Argo, o seu último e terceiro filme, ganhou o Globo de Ouro, bom, eu até gostei e fiquei com bastante vontade de ver a fita. No entretanto ainda resmunguei com o auto-casting para o papel principal!!! Usualmente eu não me importo muito em saber como são os actores na vida real, mas sempre imaginei Affleck um pouco como a personagem que interpreta em Argo, Tony Mendes, exatamente assim, um chato eficiente, reservado, inteligente, às vezes ressacado, mas sem a barba. Provavelmente estarei enganada. Affleck até poderá ser um indivíduo interessante, charmoso, bem humorado. Mas seria o último actor com quem eu desejaria ir tomar café!! 

E ontem vi finalmente Argo e gostei bastante. Tenho-me esforçado por não ler muito sobre os filmes antes de os ver pois o factor surpresa melhora a nossa experiência. Nem sempre consigo resistir mas estou a melhorar! Assim, eu apenas sabia que Argo era sobre uma extracção de reféns em Teerão durante os tempos da guerra fria. Eu gosto muito de trillers de espionagem inspirados em histórias reais. O Irão já se manifestou criticando o filme e afirmando que tenciona repor a verdade sobre "os seus heróis" realizando a sua versão cinematográfica da história. É natural que o Irão tenha outra visão dos factos. Mas o filme é ficção, não é nenhum documentário. Affleck sabiamente parece ter evitado fazer uma caricatura do povo Iraniano ou agredir gratuitamente a nação, - a realidade não é bonita, não pode ser escamoteada, o Irão era, à época, pasto para violência e opressão- mostrou o que tinha que mostrar, o que queriam que Affleck mostrasse? Não vi nada que não continuemos a ver nos telejornais recentes ou na internet quando as relações ente estes países e os EUA se crispam. 

Quando o filme termina são-nos mostradas fotos das pessoas resgatadas e de algumas cenas recriadas e vemos que o trabalho de reconstituição foi minucioso. O que não significa que o filme não seja uma visão Hollywoodesca da missão. Mas eu não vou fazer disso uma questão, quando compro um bilhete de cinema compro uma mentira que todo o filme é, qualquer filme é, e, neste caso, Affleck vendeu a sua mentira e eu comprei, e não vou pedir o livro de reclamações!! Argo parece ter sido filmado nos anos 70, época cuja estética, e também música, sempre me fascinou no cinema. E como grande fã de ficção científica e total desconhecedora do que o título Argo significava - pensava eu que era o nome da missão secreta - achei hilariante que no meio de tamanha crise, de tanta tensão política e revolucionária, a arma secreta para salvar os reféns tenha sido a invenção contra-relógio da produção de um filme de ficção científica de nome Argo! A ficção ultrapassa assim a realidade e o elemento cómico que proporciona torna Argo extremamente divertido. Assistimos então aos esforços de um especialista de maquilhagem de Hollywood de nome John Chambers, que Tony contacta em plena rodagem de um filme de monstros, coadjuvado por um produtor em fim de carreira, Lester Siegel, para criarem a ilusão de que uma equipa de gente do cinema vai a Teerão preparar o terreno para a filmagem do filme Argo. 

A tensão está bem trabalhada, é crescente, mas o ritmo do filme é sereno, como se conduzido pelo pulso firme de Tony, o agente barbudo e de poucas falas, que "nunca deixou ninguém para trás", passados os minutos frenéticos da tomada da embaixada e da destruição de documentos. E o que dizer da lição de história que abre o filme feita com story boards ao jeito das usadas em Hollywood e no cinema em geral? Quando as estratégias mais cerebrais e tradicionais da CIA falharam, do cinema veio a resposta. Não há cinéfilo que não vá rejubilar ao assistir a Argo. Hollywwod 1- CIA 0. Eis o resultado de Argo. Parece mentira, mas foi verdade.


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