Cinema: o negócio da contrafação


Há um lógica que me escapa. Porque é que as pessoas compram coisas que são imitação de grandes marcas?! Qual é a piada disso? Penso eu que ao comprarmos uma coisa de marca queremos tudo o que ela oferece: o saber adquirido transformado na produção de um bom produto, bom nos materiais, no design, na funcionalidade, aliado a um passado que é sinónimo de uma reputação adquirida. Não. A malta pela-se por comprar uma mala de plástico por 60 euros em vez da original que custava 1000 e porque ela tem uma etiqueta igual acham que fizeram um grande negócio. Quanto mais perfeita mais facilmente enganam o olho alheio, podem até dizer que a peça que ostentam é genuína. Mais vale sê-lo do que parecê-lo era o que se dizia. No estado actual do consumismo desenfreado, se eu pareço, logo existo. Pareço estar bem na vida e o sinal disso é uma etiqueta. Que raciocínio tão pobre é este!

A contrafação é crime e as autoridades não têm parança para lhe fazer face. As pessoas vivem na ilusão de estarem mais perto do sucesso só porque têm ao ombro uma carteira que, pensam elas, só elas sabem não ser de marca. Ontem vi na TVI24 um documentário sobre contrafação em França. A ocupação daqueles funcionários nas alfândegas não pode ser mais desprovida de senso: passam os dias a examinar documentos e a abrir contentores e caixotes e a examinar produtos para despistar se são contrafeitos. Os dados das declarações alfandegárias são examinados e depois as embalagens. Os fiscais contactam as empresas detentoras das marcas para serem esclarecidos e isto tem de ser feito com rapidez ou as mercadorias serão libertadas. Estes produtos foram produzidos algures, tiverem custo diversos, quer a nível de recursos quer a nível de desperdícios e impacte ambiental, muitos não têm qualidade, outros têm qualidade sofrível e outros até cumprem minimamente a sua função. Mas acabam por ser levados para grandes armazéns para serem posteriormente destruídos. Onde é que está o sentido disto? O único sentido é que eles alimentam uma economia paralela que nesses países garante a sobrevivência de muitos.

A China é o maior exportador para a União Europeia e muita contrafação vem daí, mas também da Formosa, India, Médio Oriente e América do Sul. Os contentores que chegam via marítima são a principal forma de transporte pelo que os portos da Europa estão alerta. Alguns chegam por avião e até com risco. Mas as redes que laboram na contrafação são profissionais e até conseguem aproveitar a lei para conseguir escapar. Um exemplo, um frasco não rotulado de pesticida está fora da possibilidade de controlo, apenas as tampas onde está impresso o nome podem ser apreendidas. Do norte do nosso país para Espanha também se exporta material contrafeito em especial para Espanha, França e Inglaterra e a livre circulação no mercado comunitário não funciona a favor da lei. A contrafação é um negócio lucrativo. Grupos ligados ao tráfico de droga estão a trocar a droga por medicamentos contrafeitos pois é mais lucrativo e as penas menos severas se forem apanhados. As marcas são lesadas, o Estado é lesado pois não recebe impostos e em algumas situações o consumidor é francamente lesado. Exemplos de lavradores em França a quem foi vendido pesticida contrafeito – perderam toda a colheita de batata e de tomate. Pergunto-me se é isto o progresso.





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