O homem que cortou o dedo no Tribunal da Figueira da Foz


Certamente já viram um filme sobre a Yakusa onde alguém corta um dedo e o embrulha num lenço entregando-o a um chefe. É um momento de arrepiar estômago que fica sempre bem. Trata-se de um ritual de perdão entre gangsters. Se um indivíduo falha na sua missão tem de pedir desculpa. Ao mesmo tempo isso significa também que a lealdade para com todo o grupo não foi quebrada. Isto pode ser feito de livre vontade ou não. Salvo erro são os dedos mindinhos que são utilizados no ritual e por cada ofensa eles cortam uma parte do dedo, possivelmente pela articulação, o que daria seis hipóteses de errar. Não sei se depois disso começam a cortar pelo braço acima!! Isso eu nunca vi! As pessoas ficam marcadas e acabam assim por ser reconhecidas como yakusa. Se deixam o gang e têm dinheiro recorrem a cirurgia reconstrutiva pois a falta dos dedos é estigmatizante. 

Ora vem isto a propósito do recente caso do homem que cortou o dedo aos bocadinhos em frente da juíza no Tribunal Judicial da Figueira da Foz. Se Santana Lopes colocou a Figueira na moda, o sr. Orico colocou-a na página dos insólitos judiciais. Parece que em causa estava a abertura de propostas de venda de bens penhorados cujo resultado não terá agradado ao empresário. Como conheço o tribunal fruto da minha breve actividade jurídica foi-me fácil imaginar toda a cena ao ler as notícias que têm vindo a ser escritas em vários jornais. Mas, mais do que cinema japonês eu imaginei uma cena mais à Dexter, devidamente espirrada de sangue. À primeira vista parece ter sido um acto de desnorte de uma pessoa desesperada. Mais um maluco à solta, - terão pensado muitos- Portugal está perdido, já não há nada que não aconteça, não estamos seguros em lado algum !Mas na verdade o Sr. Orico talvez tenha feito o que fez de forma muito consciente e com conhecimento do simbolismo envolvido no seu acto. Primeiro lembrei-me logo dos Yakusa! Será que o sr. Orico também gosta de cinema japonês como eu? Todavia, fazer o que fez à luz do ritual Yakusa não teria qualquer sentido. Mas há mais sociedades onde cortar dedos é algo mais ou menos comum. À luz da nossa cultura ocidental este homem não passa de mais um grande maluco que a crise dos nossos dias gerou, mas na Coreia, penso que é na Coreia, este ritual de cortar dedos tem um sentido diferente: aí sim, é usado como forma de protesto, é uma forma de dizer que não se esquecem as ofensas feitas. 

Espero que doravante os portugueses, sempre tão dados a importar costumes de outras culturas, não comecem a utilizar esta forma de protestar nos tribunais, nas finanças, nas Câmaras e noutros locais públicos. Com tamanha quantidade de injustiçados já estou a ver as autoridades a instalarem cepos, serviços de limpeza e de enfermagem nos ditos locais. Por outro lado podia ser uma forma de criar mais postos de trabalho e cumprir a meta de criação de empregos proposta pelo Governo. Será isto uma manobra de marketing socialista?

Comentários

Capitão Merda disse…
Acho que ele viu o Império dos Sentidos e compreendeu mal...
N@nc! disse…
Oi Belinha!!! :-)
a quanto tempo!!!
o meu blog tem andado parado...já perdi a "pica" toda para aquilo mas de vez em quando lá vou actualizando!
Pela madeira o tempo está mais ou menos, certamente não tão frio como por esses lados =P
Tem estado a chover, mas hoje esteve sol :-)

Obrigada por teres passado pelo meu cantinho :-)

quanto ao teu post isso é certamente horrível!!! :S

beijinhos ;)