As folhas em branco da Primavera



Ora eu disse que regressaria na Primavera, estação própria da renovação dos ciclos. Agora que o momento chegou sou confrontada com o espaço em  branco do meu blogue, com as palavras que se cruzam com tudo o que cruza a minha imaginação, e pergunto-me se quero mesmo despertar o blogue da letargia. Terei o que escrever?! Terei o tempo e a calma, ou antes a apatia, ou a raiva ou a alegria ou a paixão para isso? Terei assunto? Valerá a pena?

O blogue, afinal o herdeiro da nossa velha amiga ou inimiga folha em branco. Dantes um olhar amigo e íntimo do outro lado da viagem das palavras, agora olhares mais ou menos anónimos, mais ou menos imprevisíveis, mais ou menos fugazes. Sempre oscilei entre estes dois pólos: escrever, mas afinal escrever o quê, para quê? Escrever, ah, sim, escrever, claro, algo tão imperioso como respirar, escrever, não importa o quê, escrever, escrever.

Já me esquecia que ter um blogue significa antes de mais que não tenho de escrever para ninguém senão para mim própria, ora aí está. Mas para isso não precisaria do blog: ainda tenho folhas em branco, aliás, terei sempre folhas de papel em branco, na gaveta. E cada vez mais em branco agora que já nem cartas escrevo!As pessoas que partilharam a minha adolescência e juventude talvez já nem sintam a falta dessa correspondência com cheiro de papel, tinta e cola. E as minhas ideias de escrever mais a sério também se diluíram no tempo como sempre se diluíam quando lia algum livro efectivamente bom e me confrontava com a minha nulidade literária.

Ao longo do tempo tudo muda, ou nada muda, mas o papel agora uso-o menos para escrever do que para desenhar. O desenho dá-me luta e se desisti de escrever a sério dando a guerra como perdida, de desenhar não paro, vou travando batalhas, e se não ganho a guerra pelo menos ainda não me senti derrotada. Talvez devesse ter feito o mesmo com a escrita. Mas a energia não é inesgotável e há que gerir os recursos escassos de forma razoável se queremos sobreviver. E se calhar sobreviver ao Inverno significa Primavera, significa recomeçar. E por isso aqui estou de novo a poluir as folhas virtuais de cor branca do meu blogue com palavras, talvez ainda sem muito sentir ou sem muito sentido, uma vez mais também ao encontro dos olhares anónimos, alguns mais familiares, e a estes, que sabem quem são, agradeço os emails recebidos durante a minha ausência. 

Às folhas castanhas do Outono, sucedem-se as folhas brancas desta Primavera virtual. Estou de volta para o que der e vier.

Comentários

Capitão Merda disse…
Sê bem-regressada, Belinha!

É sempre um prazer ler-te.
Lídia Lopes disse…
Bem-vinda! É bom voltar a "ler-te" :)

Beijos